segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963-64) – Glauber Rocha.



            É um filme que não se resolve com facilidade. Interminável em seus 125 min. Tem belíssimas imagens, ótima gravação e roteiro, sim. Mas, altamente não recomendado para entediados ou para aqueles não dotados de uma paciência estóica. É um marco no cinema brasileiro, no cinema latino-americano, que antes dele restava deslocado do eixo europeu. É considerado aquele que marca o cinema novo, sim. Como diz Arnaldo Carrilho, em depoimento no DVD comemorativo da Riofilme. A seguir cito Glauber:

            "[...]em Cannes, em 1964, quando eu e Nelson
Pereira dos Santos apresentamos Deus e o diabo na terra do sol (1963-64)
e Vidas secas (1963). Foi a entrada do cinema brasileiro, como fenômeno
cultural, no mundo cinematográfico." (Glauber Rocha, O Século do Cinema, pág. 45)

            Eu considero a grandeza do filme – em ambos os sentidos -, o que mostra e como mostra: a cultura nordestina, com seus heróis, suas lendas, sua forma de narrar, as canções e a literatura de cordel; fortemente presentes. Filmado em Monte Santo (BA), mostra cenários enormes do sertão, agressivos, contrastantes, cortantes. Porém, espectador que sou, parece-me que há nele um ótimo roteiro feito para 30 min e colocado em um filme de duas horas. Uma morosidade sem fim para que os lances se resolvam, uma lentidão demasiada, realmente eu não sei o que Glauber Rocha quis com isso.
            Com metade do tempo, o filme seria perfeito. E, olhando para algumas sinopses, permaneço ainda mais nessa ilusão.

Bom, deixando a palavra para o próprio Glauber, me retiro.
"Deus e o diabo na terra do sol, digamos que foi um filme provocado pela
impossibilidade de fazer um grande western, como poderia fazer, por exemplo,
o John Ford. Ao mesmo tempo, havia um caminho de inspiração eisensteiniana,
de A linha geral e do Encouraçado Potenkim, e ainda as influências do
Visconti e do Rossellini, do Kurosawa, do Buñuel. Então, Deus e o diabo foi
feito sob essa luta entre Ford e Eisenstein, e a anarquia buñueliana, a força
selvagem da loucura do surrealismo." (Glauber Rocha, O Século do Cinema, pág. 330)

Um comentário:

WaLLaS_Felippe disse...

‎"Então, Deus e o diabo foi feito sob essa luta entre Ford e Eisenstein, e a anarquia buñueliana, a força selvagem da loucura do surrealismo." - Concordo que se o filme fosse reduzido há uns 30 ou 40 minutos a história ficaria bem mais interessante, mas perderia um pouco o sentido surreal de toda a trama. É um grande filme! Mesmo assim Vida Secas me marcou mais! xD