É
um filme que não se resolve com facilidade. Interminável em seus 125 min. Tem belíssimas
imagens, ótima gravação e roteiro, sim. Mas, altamente não recomendado para
entediados ou para aqueles não dotados de uma paciência estóica. É um marco no
cinema brasileiro, no cinema latino-americano, que antes dele restava deslocado
do eixo europeu. É considerado aquele que marca o cinema novo, sim. Como diz
Arnaldo Carrilho, em depoimento no DVD comemorativo da Riofilme. A seguir cito Glauber:
"[...]em Cannes, em 1964, quando eu e Nelson
Pereira dos Santos apresentamos Deus e o diabo na terra do sol (1963-64)
e Vidas secas (1963). Foi a entrada do cinema brasileiro, como fenômeno
cultural, no mundo cinematográfico." (Glauber Rocha, O Século do Cinema, pág. 45)
Eu
considero a grandeza do filme – em ambos os sentidos -, o que mostra e como
mostra: a cultura nordestina, com seus heróis, suas lendas, sua forma de
narrar, as canções e a literatura de cordel; fortemente presentes. Filmado em
Monte Santo (BA), mostra cenários enormes do sertão, agressivos, contrastantes,
cortantes. Porém, espectador que sou, parece-me que há nele um ótimo roteiro
feito para 30 min e colocado em um filme de duas horas. Uma morosidade sem fim
para que os lances se resolvam, uma lentidão demasiada, realmente eu não sei o
que Glauber Rocha quis com isso.
Com
metade do tempo, o filme seria perfeito. E, olhando para algumas sinopses, permaneço
ainda mais nessa ilusão.
Bom, deixando a palavra para o
próprio Glauber, me retiro.
"Deus e o diabo na terra do sol, digamos que foi um filme provocado pela
impossibilidade de fazer um grande western, como poderia fazer, por exemplo,
o John Ford. Ao mesmo tempo, havia um caminho de inspiração eisensteiniana,
de A linha geral e do Encouraçado Potenkim, e ainda as influências do
Visconti e do Rossellini, do Kurosawa, do Buñuel. Então, Deus e o diabo foi
feito sob essa luta entre Ford e Eisenstein, e a anarquia buñueliana, a força
selvagem da loucura do surrealismo." (Glauber Rocha, O Século do Cinema, pág. 330)
Para quem quiser conferir em e-book O Século do Cinema:
http://books.google.com.br/books?id=XIQSnRbfyusC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
http://books.google.com.br/books?id=XIQSnRbfyusC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
Um comentário:
"Então, Deus e o diabo foi feito sob essa luta entre Ford e Eisenstein, e a anarquia buñueliana, a força selvagem da loucura do surrealismo." - Concordo que se o filme fosse reduzido há uns 30 ou 40 minutos a história ficaria bem mais interessante, mas perderia um pouco o sentido surreal de toda a trama. É um grande filme! Mesmo assim Vida Secas me marcou mais! xD
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