Enredo:
Há de forma central um casal de namorados: Luiz, um escriturário e Virgínia, uma jornalista. Esta consegue se promover no jornal em que trabalha, através de um primeiro caso de grande audiência, que foi chamada para cobrir. Enquanto isso, seu namoro passa por uma crise, após ela ter dado a bunda para o proctologista com quem foi se consultar. Ela tem um fetiche com o sexo anal, ao tempo que tem hemorróidas; justo o que a levou ao médico e ao ato impulsivo de fazê-lo no momento do exame. Logo depois, ela o confessa ao namorado e a trama se desenrola em várias direções; inclusive com a presença de sua amiga Ana, que num interesse louco, tenta fazer com que Virgínia fique com ela. De acordo com o autor o interesse principal do livro não era a pornografia, mas mostrar a sujeira que rola no chamado “jornalismo marrom”.
O
que dizer... Senti um apelo a Bukowski rondando as páginas, mas foi um apelo
interessante, jovial, do tipo pé-na-porta, escancarar... E a pornografia?
Ótima, bastante natural. Aliás, o tipo de escrita é de forma bastante natural,
não se preocupa em “estar bom”, se preocupa em descrever as situações da
maneira do retrato, sem realmente preocupação com “estilo”. E essa geração beat
nos deixou de ponta-cabeça, realmente. A coisa parece ter saído da
“literatura”, para o diário bêbado e caído em uma literatura assim, que parece
sem escrita, mas com um enredo. E o que se pode dizer do impacto do cinema? No
modo de narrar, no modo de lembrar, no papel da própria literatura, dos
escritos? Esse desenrolar de décadas, claro, merece uma atenção mais pausada;
mas, me veio à tona durante a leitura desse livro, me intrigou. E a resposta
ele mesmo dá, ainda que de forma implícita, penso eu:
“– O cu é marrom, a merda é marrom, a imprensa é marrom e até a terra, pra onde a gente vai debaixo no fim, é marrom. A vida não tem cor! Que se fodam todos os hipócritas que não vêem isso! Que morram! Faço o meu trabalho e o meu trabalho é esse: contar as histórias que todos querem que eu conte.” (pg. 112).
Penso que o livro precisa de uma
boa reedição, algumas coisas reescritas. Fora isso, as partes são bem
intercaladas, com uma trama que não permite tédio, com o suspense do fato
futuro, esperado pelo leitor. E o que não dizer do principal? A temática do
sexo é nua e crua, visceral, suja, tosca, gostosa, e tantas coisas. Do asco ao
prazer, aquilo de que estão rodeados os desejos, as perversões, as pequenas e
grandes violências. A liberdade sexual está em vários planos, os segredos
cotidianos são mostrados vivos, sem frescura – dos ambientes mais refinados aos
mais escrotos.
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