segunda-feira, 18 de março de 2013

Coca-cola e cerveja – bebidas sagradas do período industrial




A Coca-cola é mais uma das aberrações do período industrial. Enquanto que a cerveja, ou as bebidas alcoólicas em geral, pode estragar famílias – desde o início de seu uso -, a Coca-cola, ou os estimulantes afins deste período, não só destrói famílias, como está acabando com o próprio habitat humano – sim, e dos outros animais, o planeta inteiro está nessa trama.
            A cerveja foi uma das primeiras bebidas alcoólicas, nascida na Mesopotâmia, Suméria como se sabe, e tinha uma função ritualística – consagrada à deusa Ninkasi – dentro do ciclo anual de festas sagradas. O descontrole era caso isolado, pois, em primeiro lugar, havia outro tipo de relação que não a obrigatoriedade do consumo.
            Ao contrário, a Coca-cola, um dos frutos amargos do período industrial, foi assimilada pelo sistema capitalista como a sua “bebida sagrada”. Quando se bebe e se consome esse produto, se é induzido ao estímulo e à sobriedade – ótimo refresco para que se volte ao trabalho e se produza mais e mais com vigor... O conhecido Tempos Modernos (1936) de Chaplin retrata bem o que tenho em mente. A cena em que Chaplin se entope de cocaína é essencial – aliás outra droga do período industrial, que de início era consumida juntamente com a Coca-cola pelos burgueses.


            Por outro lado, a cerveja – como qualquer outra coisa – foi dessacralizada e assimilada pelo sistema produtivo. Amiga da recreação e da embriaguez, seria a inimiga número um da lista do sistema produtivo, onde e no qual se exige o trabalho em excesso. Mas, como o cinema e o parque de diversões – ou os shopping centers (centros de comprar) – do domingo, que Adorno caracteriza como continuação do trabalho, a cerveja foi apropriada como um “refresco” ou “dormitivo” legalizado para que o trabalhador se entorpeça à noite e volte ao trabalho no dia seguinte.
            Aqui no “país do futebol” – aliás, outra coisa apropriada – o trabalhador, que às vezes domingo de manhã joga bola com os amigos, chega em casa ou sai do trabalho, assiste a um jogo tomando uma latinha de cerveja, sonhando com os jogadores que se divertem com uma bola de borracha – ou o que for – e ganham milhões por ano. O sonho, a ilusão do(a) trabalhador(a) de “ficar rico”, é alimentada na embriaguez do álcool, mulheres rebolantes e esportistas milionários. Estes, a versão contemporânea e neoliberalista dos gladiadores escravos, até inauguram ONG’s para “ajudar” meninos carentes a chutar bola e para fazer referência a seu passado de pobreza. Agora, patrocinam o ciclo de miséria e mais perversões (no sentido clínico mesmo, como Zizek nos apresenta. Ex.: café descafeinado, cerveja sem álcool, etc.) que o sistema produtivo induz e produz para que se continue a “ter prazer”, e que de qualquer modo se consuma. Há obrigação até mesmo, ou principalmente, de se ter prazer...


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